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Empregar os inúmeros benefícios das plantas medicinais unidos aos tratamentos não invasivos da Medicina Tradicional Chinesa, por meio de Práticas Integrativas e Complementares (PICs)  no Sistema Único de Saúde (SUS), são as especialidades da farmacêutica e coordenadora do Programa Farmácia Viva do município de São Bento do Sul (SC), Ana Carla Prade. Mantido pela Secretaria Municipal de Saúde, o serviço de atendimento tem ajudado muitos pacientes a melhorar a qualidade de vida e a curar doenças.

E a experiência da farmacêutica e de sua equipe não ficou restrita ao município: foi destaque nacional na última edição do Congresso Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), em julho. O trabalho da especialista com a fitoterapia a levou ao desenvolvimento do 'Protocolo de Retirada Gradual dos Inibidores da Bomba de Prótons com a Maytenus I. - Espinheira Santa', selecionado como um dos melhores para servir como inspiração a farmácias vivas de todo o País.  

Baseada no desafio que o uso continuo de medicamentos inibidores da bomba de prótons (MIBPs) se faz aos gestores e profissionais da saúde, Ana Prade constatou que muitos pacientes iniciam o tratamento com estes medicamentos e acabam utilizando-os por longos períodos, sem indicação terapêutica definida. A pesquisa feita por ela analisou estudos recentes demonstrando que o uso crônico destes medicamentos pode levar a deficiências de vitaminas e minerais, aumento do risco de diarreia por infecção por clostridium defficile, nefrite intersticial e desenvolvimento de pólipos. Para evitar estas complicações, o Protocolo consiste em retirar gradualmente o medicamento com a inserção da espinheira santa diariamente, de 2 a 3 vezes ao dia, até a total retirada do medicamento, cinco semanas depois. 

Um dos objetivos da farmacêutica com a exposição foi chamar a atenção para a importância do protocolo como instrumento ordenador das ações e do acesso à fitoterapia e como uma possibilidade de ampliar o cuidado aos pacientes em polifarmácia. "Ao longo da carreira como profissional da saúde, e assumidamente uma defensora das práticas integrativas e complementares, comecei a perceber a complexidade do adoecimento dos pacientes. E a utilização da Maytenus ilicifolia como opção terapêutica em pacientes em uso crônico de medicamentos inibidores da bomba de prótons mostrou-se resolutiva e eficiente", observa. 

Foi constatado que a espinheira santa teve efeito benéfico nestes pacientes, validando seu uso como protetor gástrico e antidispéptico. Dos 35 pacientes acompanhados pela equipe do Farmácia Viva entre 2018 e 2022 apenas 3 não conseguiram concluir a retirada do medicamento. Todos os pacientes relataram respostas positivas e grande adesão ao tratamento, com melhora relatada a partir da segunda semana. 

"A utilização da espinheira santa como uma ferramenta terapêutica foi relatada pelos pacientes como um reconhecimento do uso tradicional das plantas medicinais e como um resgate da sabedoria popular aliada aos cuidados e à ciência". Outra vantagem é a conduta terapêutica normatizada pelo Protocolo facilitar a prescrição e padronizar o procedimento. "A espinheira santa é uma opção segura e eficaz para tratamento de sintomas dispepticos e para o manejo de pacientes em polifarmácia e deve ser considerada como ferramenta terapêutica na Atenção Primária". 


Saiba mais

A fitoterapia é uma prática integrativa que pode trazer alternativas seguras e eficazes para o tratamento de diversas patologias recorrentes na Atenção Primária, como as dispepsias, a azia e os desconfortos gástricos. 

A Maytenus ilicifolia (Espinheira santa) é uma espécie medicinal nativa brasileira, endêmica da região sul e foi eleita a planta medicinal símbolo de Santa Catarina. A planta consta na Relação Nacional de Medicamentos (Rename) e no FFFB 2ª Ed. e é cultivada no município de São Bento do Sul em uma área produtora de água que faz parte do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais, onde aproximadamente mil indivíduos foram plantados em áreas de mata ciliar.